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George Harrison, esteve no Brasil em 1979

George Harrison: — Eu não sou macaco de zoológico (Mário Pazcheco) George só quer saber da sua tranqüilidade. O sucesso marcou, mas ficou para trás. Ele agora quer ser apenas um homem como os outros. 
 


Rio de Janeiro: Harrison & Regina... Fevereiro de 1979. Inicialmente a viagem ao Brasil de George Harrison seria promocional e ele aproveitaria a oportunidade para assistir à corrida de Fórmula 1 em Interlagos. Sem explicações, a WEA cancelou o programa. Nem por isso, no entanto, Harrison desistiu da viagem. Numa quarta-feira às 16:00h, quando ele colocou os pés no Aeroporto do Galeão, no Rio de Janeiro, foi delirantemente saudado por uma multidão. O ex-beatle imediatamente lembrou-se do romance de H. G. Wells, "O Homem Invisível"; tudo que Harrison queria naquele momento era ser invisível. Apenas uma fã, Catarina Cunha entre as centenas de adolescentes que o esperavam, conseguiu furar o cerco policial, ganhou um beijo e um autógrafo. Logo depois, Harrison conseguiu escapar e só mais tarde reapareceria para um coletiva na sede da gravadora. George Harrison foi apanhado num momento particularmente positivo em sua vida: casado com Olivia Arias, ele curtia o filho do casal, Dahny de seis meses e fundava a produtora de filmes HandMade, que realizaria o filme "A História de Brian". Curiosamente nas entrevista George Harrison usava a sua viagem inicial pelo LSD, como figura de linguagem para explicar a sua opção pelo retiro. — Viajamos umas 12 horas. Senti quando saí do meu corpo e vi com clareza esta coisa do ego. Na nossa vida tudo tem a ver com ele e só então entendi que a gente perde muito tempo se preocupando com isso. O ego é como você falar do terno de uma pessoa e não de quem o usa.


  George Harrison, o primeiro rockstar a se conscientizar dos problemas do Terceiro Mundo, manifestou sua preocupação com a devastação da floresta amazônica. Em São Paulo Muito antes da própria gravadora de George Harrison confirmar sua vinda, os sócios do “Beatles Cavern Club” de São Paulo já sabiam até a data de sua chegada. Simplesmente porque conversaram diretamente com Emerson Fittipaldi, amigo de George Harrison. E saber onde encontra-lo também não foi difícil. Bastou descobrir os hotéis de cinco estrelas utilizados pela gravadora WEA em São Paulo e dar uma busca nas listas de reservas de cada um. Assim, descobriu-se o registro de um industrial inglês cujo nome era um trocadilho de George Harrison ardil já utilizado pelo ex-beatle nos créditos do discos “Family Friends”, de Ravi Shankar. Só que quando tentaram se aproximar de George, os beatlemaníacos não tiveram sucesso: o guitarrista fugia de qualquer coisa que envolvesse o nome Beatles. Fanáticos não desistiram. Depois de subornar guardas de segurança, de perseguir o carro de George pelas ruas de São Paulo e filmar o ídolo à distância, os garotos trocaram as camisetas do “Cavern Club” por roupas comuns e os discos dos Beatles que levavam nas mãos por álbuns solo de George - e assim conseguiram finalmente, bater um papo com ele. George Harrison chegou cedo ao autódromo de Interlagos, para acompanhar as tomadas de tempo para o GP Brasil. Sempre acompanhado do ex-piloto Jackie Stewart e do piloto Ruper Kergan, ficou a maior parte do tempo assistindo ao treino do palanque da Copersucar, armado no miolo do autódromo. "Só pude aproveitar um pouco nos últimos três dias, pois, antes, simplesmente não tive paz", desabafou Harrison. João Luiz de Albiquerque/Manchete — Quer dizer que os Beatles nunca mais tocarão juntos . . . George — Não creio que isso vá acontecer. Seria como reunir os Irmãos Marx outra vez. Ou o Gordo e o Magro... Foi uma das várias perguntas que George respondia rodeado pelos repórteres e as belas mulheres que o procuravam. Um repórter de POP entrevista o ex-beatle George Harrison George Harrison e Gary Wright e Gene Hackman: um encontro de feras do rock e do cinema em Interlagos "Me senti como se estivesse diante de Deus" (José Emílio Rondeau) Eu cresci, da mesma maneira que minha geração, a anterior e algumas seguintes, admirando esse cara que está agora à minha frente. Junto com John Lennon, Paul McCartney e Ringo Starr, George Harrison formava a mais importante banda de rock de todos os tempos - e até mais o que isso: juntos, eles viraram o mundo ao avesso e passaram a representar tudo o que um adolescente queria. Eu tinha, apenas 13 anos - e me lembro de comos os Beatles estavam ligados a todas as coisas: contestação, psicodelia, cabelos ongos, a gíria, a ascenção da guitarra, o rock. Os Beatles eram Deus e o Mundo. E hoje, aos 22 anos, eu estou diante de um daqueles quatro deuses, falando com ele um sonho real. Aos 37 anos, George Harrison é agora um homem maduro, sereno e simples, que cuida sozinho de seu jardim, vive com a mulher e o filho de 6 meses, que gosta de música clássica indiana e de corridas de automóveis - foi para assistir ao Grande Prêmio de Fórmula 1 que ele acabou vindo ao Brasil, de surpresa, quando ninguém mais acreditava que viesse. Falar com ele foi como falar com minha própria adolescência. Ou como rever um velho amigo que nunca conhecera pessoalmente. Voltar aos tempos dos Beatles... no fim da entrevista, George decidiu atender às fãs que há horas esperavam para vê-lo. Cercado por guardas de segurança da gravadora WEA, teve que correr até o carro que ia levá-lo ao aeroporto, enquanto as meninas gritavam, socavam o capô, atiravam-se à frente. Quando finalmente conseguiu partir, fiquei vendo a poeira do Galaxie, com um nó na garganta. (José Emílio Rondeau). “Os Beatles fizeram como os grandes campeões; se aposentaram na hora certa”. Hit Pop — Você, que era em primeiro lugar um guitarrista, agora está diversificando seu interesses, produzindo filmes, ligando-se a corridas. Como ocorreu essa mudança? George — Bem, em primeiro lugar, eu sou um jardineiro. Passo a maior parte de meu tempo, hoje, plantando: só em novembro, plantei mais de 50 000 mudas. Em segundo lugar, eu sou um compositor; em terceiro, um guitarrista; e em quarto, um cantor. Essa é mais ou menos a ordem. Em minha vida, tudo aconteceu mais ou menos como num trampolim: tocar guitarra levou-me par a música, a música levou-me para os Beatles, os Beatles foram um trampolim para os discos, aí mãe envolvi com gente de cinema. Resolvi produzir o filme do Monty Pynthon porque sou um fã deles, e quando os antigos financiadores se afastaram, eu entrei. Quanto às corridas, bem, eu gosto delas desde os 12 anos de idade, mas antes não podia ir a nenhuma, por causa da popularidade dos Beatles. Hoje posso, e vou. Hit Pop — Quando você lançou seu primeiro disco individual, “All things must pass” (relançado agora no Brasil pela Odeon), houve uma grande reação positiva. Depois, na excursão de 74, as críticas foram totalmente negativas. Isso o afetou? George —Tudo na vida é um ciclo: você sabe, depois tem que descer. Não é nada bom quando te criticam tanto, mas ajuda: ou você enlouquece e se mata, ou se fortalece. Além disso, naquela excursão eu perdi a voz. "Eu não quero, nunca mais, ser famoso como fui antes”. Hit Pop — E quanto a John? George — Acho que John não pega na guitarra há uns três anos. Ele vive no Japão e em Nova York, tomando conta de seu bebê, Sean. Eu tenho um filho de seis meses, e é muito melhor ficar com ele, em casa, do que estar dizendo todas essas besteiras sobre os Beatles. Com todo o respeito que tenho pelos Beatles: aquilo foi bom para aquele tempo, mas... Sabe, algumas pessoas, como Paul, têm necessidade de estarem na televisão, nas paradas. Eu não. Hit Pop — você não acha importante mostrar sua música? George — Eu acho importante, quando você faz um disco, as pessoas saberem que ele existe. Seria uma vergonha se ninguém soubesse. Mas ser famoso, não. Te deixa maluco. Seria muito bom que todo mundo que quer ser famoso pudesse sê-lo, por uma semana, pra sentir como é duro? HIT - POP A transição difícil? George — Foi fácil. Uma das razões da separação foi que todos nós escrevíamos um monte de músicas e gravávamos só três ou quatro. Era como ter prisão de ventre. Com o “All things must pass”, então, banheiro: o disco tinha dezoito músicas, um alívio. Aliás, o disco de ouro que ganhei por ele está pendurado exatamente no meu banheiro. Trabalhar sozinho, então, foi fácil, já que eu tinha as músicas. ”Olhe, nós já estávamos cheios de tanta Yoko...”. Hit Pop — Quando começaram as más vibrações entre os Beatles? George — Em 1967, quando John se juntou a Yoko. Antes de tudo era muito bom, tudo. Havia turbulências, claro, passamos por coisas que ninguém imagina. Aí, durante o filme “Let it Be”, as coisas estavam péssimas. Eu deixei a banda durante as filmagens, já estávamos cheios de tanta Yoko. Ela estava tentando entrar para os Beatles, então Paul arrumou Linda para se apoiar. Foi demais pra mim, elas estavam em todos os lugares. Levei Eric Clapton pra tocar conosco em While my guitar gently weeps porque, tendo alguém olhando, John e Paul teriam que tocar direito: os dois faziam tantas músicas que, quando chegava a minha vez, eles sempre tentavam estraga-la. Era como lidar com crianças, sabe? As pessoas pensavam que tudo era um mar de rosas. Mas nós vivíamos num inferno. Hit Pop — Qual sua reação quando o empresário Brian Epstein morreu? George — Me senti muito triste. Foi como se alguém tivesse tirado nosso chão. Não sabíamos par onde olhar, nem pra onde ir. Até aquela época, nós não organizávamos nada, não sabíamos nada de negócios. Brian fazia tudo, era como um juiz, um guia. Hit Pop Os Beatles são considerados o início de tudo o que hoje é chamado rock. Você concorda com isso? George — De certa forma, sim. Somos parte da história, embora em relação a todas as modificações da época nós tenhamos sido vítimas das circunstâncias tanto quanto os demais. Os Beatles foram importantes, sim, mas não éramos a resposta para os problemas do mundo. Fomos a melhor banda: até hoje não há nada igual. Mas o resto era bobagem, e havia tantas pressões... Sabe, foi importante que nós nos separássemos: um dia os Beatles cairiam. E é melhor fazer como Muhammad Ali: ganhar o campeonato e se aposentar, como Jackie Stewart fez na Fórmula 1. Os Beatles, então, foram assim: nós ganhamos todo sos campeonatos e depois nos aposentamos. Antes que começássemos a cair. “Naquele tempo, viver um ano era como viver vinte anos”. Hit Pop — Por que vocês deixaram de se apresentar ao vivo tão cedo, em 1966 ainda? George — Porque nossa vida era muito concentrada. Um ano era como vinte anos. O tempo todo havia pressões, imprensa, o público, voando de um lado para outro, tumultos em cada cidade. Um ano, para cada um de nós, era uma vida. E, por volta de 1965, 66, eu, por exemplo, me sentia como se já tivesse vivido trezentos anos! “Foi uma experiência incrível sair de meu próprio corpo”. Hit Pop - Como foi que você começou a se interessar por assuntos espirituais? George Harrison — Bem, um dia, eu, John e nossas esposas fomos jantar. E John colocou ácido em nosso café. Nós não sabíamos o que era aquilo, e ele nos disse: "Aconselho que vocês não saiam". Depois, pensando que ele nos estava convidando para uma orgia em sua casa, saímos. Acabamos entrando numa discoteca chamada Ad Lib - e uma porção de coisas incrivéis começaram a acontecer. Parecia que estávamos na pré-estréia de alguma coisa, achamos que o elevador estava em chamas (havia apenas uma luz vermelha), e quando saímos dele estávamos todos gritando. Foi incrível. E depois dessa experiência de deixar meu próprio corpo, de ver meu ego, passei a procurar alguma coisa mais real. Então me liguei em música clássica indiana, fui a Índia, passei algum tempo com Maharishi Mahesh Yogi, em Bangor, para me encontrar. Hit Pop - Voltando ao Monty Pynthon: como você começou a trabalhar com eles? George — Eles são meus velhos amigos. Eric Idle, um deles, escreveu comigo o roteiro para o filme dos Ruttles, uma paródia dos Beatles feita pelo Monty Python, no qual até eu trabalhei. Os Ruttles foram uma liberação, pra mim, uma piada com os Beatles. E tudo deve ter um lado engraçado. Hit Pop — Você, que representou o rock de toda uma geração, como vê o rock dos anos 80? George — Deverá ser bom. Mas, sinceramente, não presto muita atenção à música que predomina hoje. Gosto de algumas coisas, como Elton John e Ry Cooder. Mas quando quero me sentir bem, ouço música clássica indiana, que tem suas raízes no espírito. Emerson Fittipaldi diz que Harrison morreu acreditando na vida eterna da Folha Online 30 nov. / 2001 - O ex-piloto Emerson Fittipaldi, que era amigo do ex-Beatle George Harrison, divulgou hoje uma nota, por meio de sua assessoria de imprensa, sobre a morte do músico. "O piloto Emerson Fittipaldi passou a manhã de hoje inteira em contato por telefone com a família e amigos do músico George Harrison. Muito triste com a notícia da morte de seu grande amigo, Emerson lembrou em seu escritório, que conheceu George Harrison no Grande Prêmio da Inglaterra em Brands Hatch, em 1973. Fã fervoroso da Fórmula 1, depois disso, George passou a se encontrar com Emerson em vários outros GPs. 'Nós ficamos muito amigos e passamos a nos encontrar também fora da pista. Passamos férias com nossas famílias e sempre que ia à Inglaterra, jantávamos juntos', conta Emerson. Muito emocionado, Emerson Fittipaldi contou que esteve em agosto com George Harrison, quando a doença já estava em estado adiantado. 'Fiquei três dias em Lugarno, na Suíça com George e sua esposa Olívia, e conversamos muito. Quando eu cheguei senti que ele estava bastante abatido. Aos poucos foi se animando e no último dia ele não queria deixar eu ir embora. Mostrou várias músicas novas que estava gravando em um novo CD. Muitas delas falava de Cristo, o que me deixou muito contente em saber que George aceitou Cristo em seu coração, acreditando na vida eterna'. Emerson contou que George era uma pessoa que cultivava muito as amizades. 'Quando gostava da pessoa ele se tornava um amigão. Mostrava sempre muito carinho e gestos de amor para com seus amigos. Sua doença o vinha abatendo muito, mas sempre com o espírito de guerreiro mostrava um amor impressionante pela vida. Sua esposa Olívia também sempre foi uma grande guerreira ao lado de George', conta. Lembrou também que quando sofreu o grave acidente na Fórmula Indy, George Harrison fez uma música enquanto se recuperava, hospitalizado nos Estados Unidos. 'Hoje é um dia bastante triste para mim, mas tenho certeza que George morreu acreditando na vida eterna e que um dia nós estaremos novamente juntos".

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